O Herói de O Eternauta
- O Cronista
- 25 de mai.
- 2 min de leitura

Estamos acostumados a acompanhar um protagonista forte que consegue resolver as coisas sozinho e que muitas vezes é o único capaz de fazer algo que aflige as pessoas, o tropo do escolhido. No entanto, no gibi O Eternauta as coisas são um pouco diferentes. E que bom que são.
“O verdadeiro herói é um herói coletivo, um grupo humano. Isso reflete, embora sem premeditação, meu sentimento íntimo: o único herói válido é o herói em grupo, nunca o individual ou solitário.” Assim disse, Héctor Oesterheld.
No final da década de 50, Héctor Oesterheld e Francisco Solano López, motivados pelas transformações sociais ao seu redor na Argentina e no mundo, produziram aquela que seguramente é uma das obras mais importantes e corajosas da ficção científica: O Eternauta. Através da saga do Viajante da Eternidade, os artistas teceram críticas relevantes ao militarismo e imperialismo, e marcaram a cultura de uma nação.
Em O Eternauta, Oesterheld e Solano López fazem questão de deixar claro que individualmente as pessoas não vão conseguir resistir aos problemas apresentados na trama. O individualismo não é a solução, e muitas vezes pode produzir mais problemas. O herói não é um único personagem, nem mesmo o protagonista da história, por mais importante que ele seja, o herói é um coletivo de pessoas que, em estado de união, se fortalecem, o herói é uma comunidade. Dado o contexto em que os quadrinistas estavam inseridos, a união popular se mostrava uma mensagem que ambos julgavam ser relevante.
Posteriormente, com o crescimento da obra, a mensagem de Oesterheld e Solano López ganhou vida organicamente através do povo argentino. Sempre que grupos inconformados com os caminhos que o país está tomando decidem se reunir nas ruas, não é incomum vislumbrar alguém fantasiado de Eternauta entre a massa popular. Neste contexto, o ato que para muitos pode parecer apenas o de uma pessoa vestida de um personagem de ficção científica, nada mais é do que o símbolo do herói coletivo idealizado e defendido por Oesterheld e Solano López servindo de estandarte para o agrupamento de pessoas que decidiu se unir em causa comum.
O Eternauta é o gibi latino-americano de maior relevância já produzido. Com uma mensagem atual, sua indiscutível influência permanece presente graças à arte proporcionada em suas páginas, influência essa que permeia a literatura, obras audiovisuais como filmes, séries e animações, e evidentemente outros gibis.

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