Ordem e Caos: O Equilíbrio em Elric de Melniboné
- O Cronista
- há 6 dias
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A fantasia é um gênero amplo e antigo trabalhado na ficção. Quando foi criado? Essa é uma questão complexa de se responder que podemos deixar para outra ocasião, porém, durante milênios a humanidade foi capaz de produzir histórias com características constantes na fantasia. Pode-se dizer que essas histórias, que formaram diversos folclores e mitologias de variadas civilizações, constituem as bases do gênero que conhecemos hoje.
Durante o século XX, houve uma explosão de histórias do gênero, proporcionando uma diversidade de produções e de novos autores, que inevitavelmente acabou gerando ramificações, ou melhor, subgêneros. Seja com J. R. R. Tolkien e sua Alta Fantasia em O Hobbit e O Senhor dos Anéis, com seu contemporâneo Robert E. Howard produzindo obras de Espada & Feitiçaria como Conan ou com Edgar Rice Burroughs e a Fantasia Científica que influenciou Guerra nas Estrelas, cada autor em seu ambiente literário contribuiu à sua maneira para o enriquecimento do gênero, possibilitando o surgimento de novas obras e novos autores. Autores como Michael Moorcock na década de 50.
Moorcock, reverenciado mundialmente como um dos maiores nomes da fantasia, transitou por diversos subgêneros, se destacando na Espada & Feitiçaria com seu personagem mais importante, Elric de Melniboné. A saga de Elric, um imperador feiticeiro com uma série de defeitos, influenciou bandas de rock e o trabalho de George R. R. Martin em As Crônicas de Gelo e Fogo e Kentaro Miura em Berserk, sendo assim, uma das precursoras da Fantasia Sombria, uma mescla do gênero fantasia medieval com elementos de terror, especificamente, um tempero de horror lovecraftiano.

Neste contexto, as histórias de Elric apresentam um conceito central para o desenvolvimento delas: o Equilíbrio. O Equilíbrio é uma questão fundamental no universo do personagem. Duas facções, Ordem e Caos, lutam pelo controle, algo que causaria o desiquilíbrio caso uma delas obtenha êxito, a chamada Entropia.
A Ordem permite a estruturação e concretização das coisas, enquanto o Caos oferece a multiplicidade, variedade e criatividade. Numa realidade como esta, o equilíbrio é necessário porque, se houver Caos demais, surge a Anarquia, a completa desordem, a aniquilação da liderança e autoridade. Já se houver Ordem em excesso, o resultado é a aversão ao contraditório, a concentração do poder, o controle em demasiado, em resumo, o Fascismo.
Uma conjuntura desenhada e moldada por esta guerra cósmica possui necessidades e é requerente de uma força auxiliar para a manutenção do Equilíbrio. Este tipo de força de auxílio, que também pode ser chamada de força intervencionista ou mediadora, é presente ao longo de várias obras de Moorcock e recebe o nome de Campeão Eterno.

Na mitologia idealizada por Michael Moorcock, o Campeão Eterno é uma figura destinada e, ao mesmo tempo, condenada a manter este Equilíbrio entre Ordem e Caos. A Ordem determina um único caminho, e o Caos múltiplos caminhos e possibilidades. O Campeão deve manter a estabilidade entre as duas facções, de maneira que a Anarquia e o Fascismo não tomem forma. Entre os diversos aspectos do Campeão Eterno ao longo das eras, podem ser encontrados personagens como o próprio Elric de Melniboné, Jherek Carnelian, Dorian Hawkmoon, Ulrich von Bek, Rei Arthur e Ulisses.
Trazendo as bases desta história para o nosso contexto, e refletindo a respeito da conjuntura que se apresenta, é justo e prudente se questionar: será que precisamos do nosso Campeão Eterno?

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